A importância do "não"
01/08/2023 - VALOR ECONOMICO:
Joseph Safra (gênio), Peter Drucker (gênio), Warren Buffett (gênio) dizem a mesma coisa. Que o segredo do sucesso deles é o que eles não fazem. Eu tive uma enorme dificuldade de dizer não no início da minha carreira. Começando, você tem que abraçar todas as oportunidades e engolir muito sapo. Mas quando eu virei dono do meu próprio negócio e adquiri condições de dizer não, comecei a compreender a importância libertadora desse não.
Estratégia é (também) o que você não faz, o cliente que você não quer. Não é fácil dizer não. As empresas querem fazer de tudo, conquistar todos os consumidores, agradar a todos os públicos. Em geral, perdem dinheiro e tempo com isso.
Volvo é seguro, mas não é barato. Zara é barato, mas não é exclusivo. O Bernard Arnault, da LVMH, não tem marcas populares.
Steve Jobs era rei em dizer não. Ele dizia que usava o chicote da simplicidade. O seu papel era tirar coisas dos produtos. E vivia repetindo: excelente ideia, mas não vou fazer.
Na N.Ideias, a minha empresa, o segredo do sucesso é dizer não a clientes que podem ser financeiramente bons, mas que não estão alinhados com os nossos valores. Júlio Ribeiro, da agência Talent, não atendia cigarro, bebida e governo, contas imensas, e foi o publicitário que mais ganhou dinheiro. Eu não tive a sabedoria nem o equilíbrio de entender isso no passado, mas hoje, do meu jeito, sigo sem qualquer soberba uma política editorial na minha empresa.
Tinha um restaurante na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, chamado Restaurante Farol da Barra, comida alemã e baiana (kkk). Então, meu querido e minha querida CEO, se sua empresa vende comida alemã e baiana, seu produto é comida alemã e baiana. Seu comercial, seu marketing é comida alemã e baiana. Quando você escreve a missão de sua empresa, é comida alemã e baiana.
Ao longo de 40 anos trabalhando em empresas de muito sucesso, compreendi que o líder não é um ditador, mas o guardião da estratégia, da marca.
O sucesso do Fasano é Rogério Fasano dizendo: isso é Fasano, e isso não é. Rogério diz não, não, não.
Não é fácil fazer isso. Mas o estoque mais valioso que a empresa tem é o tempo da empresa e o tempo do seu C level. E isso se aplica a tudo. Até para a política de patrocínios e causas que a empresa abraça.
O poder do não aparece em tudo o que Peter Drucker escreveu em todos os seus livros e em como ele geria seu tempo. Warren Buffett fala que o maior luxo que ele tem é a gestão da agenda vazia, para conseguir tempo para se informar e pensar. Ele gere seu tempo como gere seus investimentos. Tempo é dinheiro.
Certa vez a Sônia Racy perguntou ao grande Joseph Safra o segredo do seu sucesso, e ele respondeu: é só não emprestar para todo mundo que lhe pede.
Essas sábias palavras, meu caro CEO, minha cara CEO, servem para tudo ao que a sua empresa está emprestando sua energia e seu tempo: a que projetos, a que negócios ela se dedica. Ao que você do C level está emprestando o tempo de sua agenda.
O que faz a sua empresa é o que ela não faz.
Fonte: A importância do “não” | Empresas | Valor Econômico (globo.com)